sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Kuṇḍalinī Yoga Terapia & os Segredos Espirituais da Āyurveda #2



Kuṇḍalinī Yoga Terapia
&
Os Segredos Espirituais da Āyurveda

. segunda parte .

Por Saṃnyāsi Pūrṇeś Āraṇya

DESDE a publicação da primeira parte deste escrito,1 tenho recebido algumas indagações acerca do processo espiritual da Āyurveda e sua conexão com o Tantra. Acredito que tenha ficado claro no primeiro artigo que a Āyurveda é uma ciência tântrica. Ao afirmar isso da última vez, busquei no exemplo da kuṇḍalinī e seu processo de despertar essa conexão, pois ela é um dos elos entre esse sistema alquímico de cura e o Tantra. Isso pode ficar mais claro através do conceito de rasa, compartilhado tanto pela Āyurveda quanto pelo Tantra. Rasa é um termo de inúmeras traduções, mas seu significado mais importante para nós aqui é fluído essencial que sustenta a vida e como tal tem sido conhecido desde os tempos vêdicos. Os fluídos corporais – notadamente o sêmen e as secreções vaginais2 – eram tidos como substâncias carregadas de poder que o sādhaka3 precisa subordinar cuidadosamente. Os ṛṣīs (videntes) vêdicos promulgaram a doutrina do soma, o plano divino que os levava à companhia das divindades. Este conceito foi assimilado à ideia do amṛta, o néctar da imortalidade que tem sua contraparte no bindu, a semente divina secretada a partir do bindu-visarga-cakra.

O Tantra explorou amplamente este conceito, inspirando as estruturas alquímicas da Āyurveda. Tradicionalmente, rasa-dhātu4 pode ser entendido como plasma, contendo todos os nutrientes provenientes da comida digerida com a finalidade de nutrir todos os tecidos corporais, órgãos e sistemas. Posteriormente, os śāstras identificaram o rasa como o sêmen de Śiva (mercúrio), cujos princípios, além da cura, envolviam o rejuvenescimento, um dos aspectos mais importantes da Āyurveda. Os paralelos entre o Tantra, a Āyurveda e a Raseśvara (alquimia) têm todos sua origem na filosofia que conceitualiza o universo em termos sexuais, como a interação entre Śiva e Śakti. Na alquimia indiana medieval (raseśvara-darśana), o fluído sexual da dūtī (incorporação física da Deusa) era igualado à mica e seu sangue menstrual ao enxofre. Junto com o sêmen de Śiva (na forma do mercúrio), supostamente produzia-se ouro. Isso explica porque algumas escolas Kaula (de linha vāmācāra) dão atenção especial a mulher (dūtī) no período do catamênio, pois nesta fase ela é carregada de poder, além de ser um portal para o mundo espiritual. A Yogaśikhā-upaniṣad (1.138) explica o nome composto, rāja-yoga, como a união do sangue menstrual (rajas) com o sêmen (bindu). A Yogacundamani-upaniṣad segue no mesmo caminho, mas na compreensão da interação entre prāṇa e citta.5

O ouro sendo o produto 1. da interação entre os elementos mica, enxofre e mercúrio; 2. da união entre os bindus branco e vermelho; ou 3. da interação entre iḍā, piṅgalā e suṣumṇā-nāḍīs, representa o êxtase alquímico derivado da união auspiciosa entre o Deus e a Deusa gotejando de sua morada celestial o néctar da imortalidade, divinizando o corpo do tāntrika. Aqui, novamente, adentramos ao campo da kuṇḍalinī-śakti, tema muito polêmico e cuja maioria das dúvidas em minha caixa eletrônica são endereçadas. Você pode acessar esse assunto, como a continuação do artigo anterior, no adendo dois no fim do texto.

Os procedimentos de rejuvenescimento (rasayana) propostos pela Āyurveda são tão antigos quanto os Tantras em seu ideal do cultivo do corpo de diamante, imortal e indissolúvel (vajra) ou divino (divya). Este é um ponto de convergência: tanto a Āyurveda como o Tantra adotam a postura da preservação do sêmen (bindu/shukla) como método fundamental de rejuvenescimento. Enquanto o Tantra promove práticas yogīs que auxiliam no processo de retenção e transmutação do shukla, a Āyurveda opera através de tônicos e procedimentos terapêuticos para aumentar a quantidade de ojas6 no organismo, vitalizando todo o sistema na intenção de rejuvenescer o corpo. Um conceito chave aqui é que sem o caudal necessário de ojas, a ascese espiritual pode provocar distúrbios no organismo. É necessário energia para que o corpo suporte a transmutação atômica promovida pelas práticas espirituais7 (veja adendo um). Por outro lado, a falta de ojas no organismo também pode levar ao estado de doença, uma vez que sua deficiência cria desequilíbrio em kapha, o que diminui o sistema imunológico criando um ambiente para manifestações de doenças tipo kapha, como a diabetes por exemplo.

Assim, na busca pela identidade entre Tantra e Āyurveda, podemos entrecruzar livremente o conceito de rejuvenescimento (rasayana) da Āyurveda com o conceito de imortalidade do Tantra. Na avaliação do tema no contexto dessas duas tradições, o que podemos inferir é que as instruções da Āyurveda auxiliam na prática tântrica; da mesma forma, a prática tântrica – que em si é ayurvêdica – da suporte ao ideal da Āyurveda. Vamos entrar nesses temas, rejuvenescimento e imortalidade, agora.

Rejuvenescimento

O estado de doença sempre nos força a confrontar nossos apegos. Todos os apegos são passageiros e são dissolvidos pela Natureza na medida em que Ela sente que é chegada a hora de curar nossa consciência. A doença é sempre uma oportunidade para aprendermos com nossos erros, uma oportunidade que a Natureza nos provê fora de Sua magnanimidade maternal. Ela espera que aprendamos bastante para não ficarmos doentes novamente. Ela pode até nos ensinar como superar a morte e desenvolver um estado de consciência permanente que nos leve a imortalidade. Portanto, o rejuvenescimento é o primeiro passo em direção à imortalidade.

Seguindo essa ideia ayurvêdica, consideramos a velhice como um estado de doença autoimune, uma admissão, por parte da ahaṃkāra (o complexo ego-personalidade ou princípio da egoidade), de que ela já não é mais capaz de sustentar adequadamente sua identidade com o corpo e a mente. A velhice ocorre por conta das repetidas indulgências com os prazeres sensoriais, onde o desgaste corporal leva a destruição de ojas. Quanto mais rápido se vive mais rápido o corpo se deteriora. O beija-flor se movimenta rapidamente, mas apenas por algumas estações; a tartaruga, ao contrário, caminha lenta e calmamente por décadas, às vezes até um século. Longevidade requer lentidão, pois uma vida lenta permite que sua energia curadora se coloque melhor entre você e o mundo externo.

Como disse acima, rasayana é o nome dado na Āyurveda para rejuvenescimento. O termo significa o caminho de rasa. Para se trilhar este caminho é preciso purificar e nutrir o rasa-dhātu, pois ele é o produto bruto a partir de onde os outros dhātus serão formados. Um rasa-dhātu saudável é o primeiro passo para produção saudável do shukla, de onde ojas é diretamente formado. A seleção cuidadosa dos sabores alimentícios (rasa) e o controle das emoções (rasa) garante a produção saudável do rasa-dhātu, gerando assim um shukla de boa qualidade e ojas o suficiente para nutrir o corpo, a mente e as emoções.

O shukla é melhor nutrido por sabores doces. Portanto, o rejuvenescimento requer a criação de uma poderosa doçura no complexo corpo-mente. O mel é feito a partir do pólen, o esperma das plantas. Dessa maneira, o shukla da planta aumenta o shukla humano de acordo com o princípio de que semelhante reforça semelhante. O mel é, portanto, um rejuvenescedor inato. Ademais, o mel é um alimento pré-digerido, graças ao diligente e laborioso trabalho das abelhas, podendo ser utilizado em qualquer parte do corpo sem ter de ser digerido primeiro. Isso é possível ao misturar mel com alguns tipos de medicina. Por esse motivo ele é considerado um dos melhores veículos para substâncias terapêuticas e rejuvenescedoras. Misturar o mel no seu estado bruto – sem passar pelo processo inicial de purificação – com chás e infusões de ervas permite que o mel aja como veículo para os princípios ativos das plantas. Como o mel se torna tóxico pelo processo de aquecimento, ele deve ser misturado ao chá ou infusão após esta ter atingido certo grau de fermentação e ter esfriado a uma temperatura ambiente, própria para o consumo.

Em honra a sua posição como alimento doce ideal, o mel é chamado de madhu em sânscrito. Madhu significa perfeição adocicada, em contraste com madhura, que se refere ao alimento doce que primeiro precisa ser digerido para que permita a todo complexo corporal receber os benefícios de sua doçura. Todas as outras substâncias físicas são madhura, apenas mel é madhu.

O aumento do shukla é o objetivo do rejuvenescimento físico, que requer disciplina estrita. O efeito que se obtém é diretamente proporcional à disciplina que se emprega. Algumas pessoas equilibradas e controladas utilizam apenas a disciplina como mecanismo de rejuvenescimento, manipulando o prāṇa, tejas e ojas inerente ao organismo para transmutação da energia (veja adendo um). Pesquisas modernas demonstraram que existem duas maneiras garantidas de se prolongar a vida: a diminuição da temperatura corporal e da quantidade de alimento ingerido. Foi estimado que a redução de 4° na temperatura normal do corpo pode nos dar trinta anos a mais de vida. Mais anos podem ser adicionados se a quantidade de alimento for diminuída para o mínimo requerido para uma boa nutrição. Vitaminas e minerais podem ajudar,8 mas indiretamente. Exercícios podem fortalecer o corpo e aumentar sua resistência, mas não o tempo de vida.

Existe uma tradição de yogīs conhecida como siddhas. Eles recebem este nome por tamanha perfeição alcançada em seu estado evolutivo. O que se sabe destes yogīs é que eles gostam de se sentar em meditação por anos no frio tórrido dos cumes mais altos do Himalaia, ingerindo o mínimo de alimento possível. Com a obstinação com que conduzem sua prática de Yoga, vencendo as baixas temperaturas do ambiente em que vivem, eles conseguem preservar seu corpo mais efetivamente do que se estivessem em um ambiente poluído e estressante como o das cidades. Tais yogīs se diferenciam da maioria de nós por seu objetivo de preservar a vida o maior tempo possível, pois isso permite que eles se aperfeiçoem, que sua meditação evolua...

Por esta razão os yogīs reverenciam o Senhor Śiva. Śiva não pode ser compreendido como um deus no sentido ocidental da palavra. Na verdade, no hinduísmo não existe a palavra deus. Śiva é, para os yogīs, a personificação de um imenso poder de transformação. Uma energia que possui o poder de transformar tudo. Por essa razão, Śiva muitas vezes é mencionado como o Deus da Morte, pois Suas transformações são tão intensas que muitos adeptos que se sujeitam a este poder não conseguem manter a integridade do complexo-personalidade e sua única ou última alternativa não é outra senão a dissolução total.

Śiva é muitas vezes personificado como um yogī vivendo no topo do Monte Kaylas, o ponto mais sagrado de todas as rotas de peregrinação na Índia e Tibete. Hindus, budistas, jainas etc., todos vão ao Monte Kaylas prestar reverência a Potencia Transformadora do Universo. Como todos os pináculos de poder do Himalaia, o Monte Kaylas é intensamente frio. O calor causa a dilatação de todos os canais sensoriais, permitindo o organismo projetar a mente para o exterior, promovendo a experiência dos objetos dos sentidos. O frio constringe esses canais sensoriais, impedindo assim a projeção da mente. Quando a ahaṃkāra se enche pelos desejos sensoriais, ela aquece a mente e o corpo, preparando todo o sistema para experiência de seus desejos. Na medida em que o desejo promovido pelo complexo ego-personalidade morre, a mente e o corpo esfriam, possibilitando a introversão dos sentidos.

A exposição ordinária ao frio ou emoções frígidas como o medo drena o elemento fogo do corpo, cujo calor alimenta todos os tecidos. Os yogīs executam seu sādhanā (prática espiritual) por anos a fio a fim de conscientemente constringirem todos os seus canais, concentrando seu fogo profundamente em seu interior, onde estará a salvo de todas as influências externas. Eles refinam sua concentração com o objetivo de resistirem ao poder transformador de Śiva.

Toda tensão física e mental deve ser eliminada em todos os aspectos da vida. Isso é fundamental para que o processo de rejuvenescimento ocorra. Se existir o cultivo da calma, tanto interna quanto externamente, é muito provável que a mente se aquiete e se torne estável com uma firme disposição. Alguns yogīs seguem rígidas restrições disciplinares, solitários em suas cavernas nos picos mais altos, afastados de tudo o que possa perturbá-los. Se você não consegue dominar suas emoções com proficiência, certamente será incapaz de se rejuvenescer, mesmo através da disciplina. Emoções furiosas queimam ojas; por outro lado, emoções frígidas secam toda a quantidade de ojas do organismo.

O controle de uma dieta rígida é fundamental no processo de rejuvenescimento. É necessário eliminar sabores quentes da alimentação, pois eles impulsionam a mente para o exterior. Eles extrovertem a consciência! Álcool ou qualquer outro tipo de intoxicante deve ser evitado; alimentos ou bebidas pungentes, ácidos, picantes ou salgados também devem ser evitados, bem como o ódio, a aversão, a raiva e outras emoções tóxicas. É preciso eliminar o sabor adstringente e a adstringência da vida, assim como o medo que a acompanha com a finalidade de se manter os canais desobstruídos. Até o sabor amargo, essencial para equilibrar os doṣas, não deve ter lugar nesta dieta. Apenas o sabor doce é permitido e os três sabores doces em uma alimentação disciplinada e orientada para o rejuvenescimento são o leite de vaca fresco, ghee e mel.

A perfeita disciplina física e mental é uma maneira de introverter a consciência do mundo exterior. Quando você impede que a provocação o afete, se fortalece da mesma maneira que um yogī em uma caverna nos picos mais altos do Himalaia. Se você ainda é vítima de emoções disparadas a partir de gatilhos externos, talvez seja necessário um retiro para que se afaste do mundo por um tempo, com a finalidade de aprender a como não reagir a provocações que irão agitar a sua mente e queimar seu ojas, diminuindo a vitalidade, resistência e por fim a saúde em geral. Não sendo o seu svadharma viver como um saṃnyāsi, isolado do mundo, é necessário que passe pelo menos um mês, uma vez por ano, em um aśram com a finalidade de se dedicar completamente a um programa de desintoxicação através de práticas yogīs e terapias ayurvêdicas. Se o seu objetivo for o rejuvenescimento do corpo, é fundamental a associação de substâncias rejuvenescedoras para dar substância aos efeitos de sua disciplina. Pessoas tipo vāta e pitta precisam muito de compostos rejuvenescedores: vāta porque seca e pitta porque queima ojas. Nessa direção, um mês é o mínimo requerido para que resultados possam ser satisfatórios, embora qualquer retiro, seja lá o tamanho ou número de dias, é sempre benéfico.

Durante o retiro deve-se manter o mínimo possível, senão evitar completamente, o contato com outras pessoas. Isso você pode fazer ao decidir passar um período de isolamento em seu quarto, caso não tenha a possibilidade de estar em retiro organizado. Neste caso, evitando até mesmo o sol ou o vento, pois o isolamento total lhe permitirá encontrar o equilíbrio interior e o real sentido a sua existência. Em um retiro tântrico organizado por David Frawley (Vamadeva Shastri) e sua esposa, a yoginī Shambavi, passamos todos por uma semana intensa de pañca-karma (cinco terapias de redução) antes de entrarmos no retiro propriamente dito, onde uma dieta rejuvenescedora foi orientada nos intervalos das práticas espirituais e satsangas. A aplicação dessas terapias de redução foi fundamental para purificação do corpo. A Āyurveda opera dessa maneira: primeiro o corpo precisa ser purificado de todas as toxinas para que possa ser fortalecido. Nesse processo de fortalecimento o poder do sistema digestivo é fundamental. Somente com o corpo purgado de suas toxinas pode-se assimilar com eficiência os nutrientes de uma alimentação ayurvêdicamente orientada. Portanto, em seu retiro particular, procure passar por um processo de purificação antes mesmo de começar. Seja regrado na alimentação e no sono. Sendo o seu objetivo o rejuvenescimento, qualquer tipo de atividade sexual deve ser evitado. O rejuvenescimento não pode ocorrer em uma atmosfera de perpétua estimulação e excitamento. Não há como lidar com o processo de rejuvenescimento sendo uma pessoa ocupada. Uma árvore não se ocupa no processo de crescimento. Da mesma maneira, o rejuvenescimento, como o crescimento, só ocorre quando há paz na Natureza.

Imortalidade

A ahaṃkāra9 utiliza o corpo e a mente para sua gratificação, o máximo possível, mas mesmo com um bom rejuvenescimento todo organismos eventualmente se desgasta com o uso. A dependência do universo exterior seja lá qual alimento ingerido – físico, mental, emocional ou espiritual – causa o desgaste da matéria humana. A mente, os sentidos e o espírito não podem ser satisfeitos apenas com pão; eles devem sentir prasanna, quer dizer, satisfação por estarem saudáveis. Na medida em que acreditarem que necessitam de gratificação sensorial para estarem satisfeitos, continuarão sua orientação para o exterior, buscando do lado de fora as gratificações passageiras da vida.

A mente e o espírito não necessitam ser completamente dependentes do corpo. Em um estudo com 600 pacientes acometidos pela hidrocefalia – uma condição em que 95% do crânio se enche com o fluído cérebro-espinhal ao invés do tecido cerebral – descobriu-se que a metade (300) deles possuía QI acima de 100, muito além da inteligência comum. Se a mente pode funcionar sem a maior parte do cérebro, isso significa que ela pode funcionar sem muitas outras coisas que pensamos ser requeridas para o seu funcionamento. Os antigos yogīs compreenderam isso e por conta de sua sede de irem além das limitações do tempo, eles inferiram que a dependência de alimentos externos fazia com que o indivíduo estivesse sujeito as leis do tempo.

Eles também sabiam que cada estação possui seu próprio sabor que permeia os alimentos, a água e o ar durante aquele período. Uma vez que os sabores influenciam as emoções e que os seres humanos são dependentes de combustível a partir de fontes externas, inferiram que o equilíbrio mental depende das influências nas mudanças sazonais do meio ambiente.

Portanto, eles primeiro restringiram sua alimentação a raízes e frutas; depois só ao leite; então água somente e finalmente, só o ar, com a finalidade de eliminar todos os efeitos físicos e mentais negativos provenientes do processo físico de digestão dos alimentos. Eles aprenderam a como viver apenas do prāṇa que absorviam do ar e como criar todos os dhātus e até mesmo ojas diretamente deste prāṇa com o auxílio de um poderoso tejas inflamado em seu interior por conta de suas austeridades espirituais. Isso lhes permitiu escapar da influência de combustíveis externos, tornando-os imortais. Os grandes mestres Babaji e Patañjali são tidos como siddhas, os yogīs que conquistaram a perfeição.

Um imortal não precisa se alimentar de comida física. Seu organismo pode criar todos os seis sabores, internamente, na devida proporção necessária para autoexpressão da ahaṃkāra. Imortalidade é a verdadeira liberdade; liberdade de todas as limitações. Um mortal não pode simplesmente decidir parar de comer, de repente. Seu sistema deve se adaptar vagarosamente a uma vida livre de alimentos externos.

O alimento que comemos nos provê uma forma muito bruta e densa de prāṇa. O prāṇa que absorvemos a cada respiração é muito mais refinado, mas ainda é mais denso quando comparado ao prāna que pode ser obtido através dos olhos pelo processo da trāṭaka (concentração na chama da vela ou nas flamas do sol). A forma mais superior de prāṇa que podemos adquirir é aquele absorvido pela mente diretamente do universo, telepaticamente, sem a interferência de qualquer órgão dos sentidos. Essas formas sutis de prāṇa são muito mais doces que o prāṇa absorvido a partir dos alimentos físicos, externos. Eles requerem pouca capacidade digestiva, saciam mais profundamente o corpo e a mente e podem ser absorvidos somente através da concentração interna. Os yogīs falam em aproveitar o jñānamṛtam bhojanam, quer dizer, o valor nutritivo do néctar do conhecimento.

Mesmo aqueles que carecem de uma firme concentração unidirecionada e são incapazes de obter estas formas mais refinadas de prāṇa, podem obter um prāṇa refinado a partir do mercúrio. Uma interpretação da palavra rasayana é o caminho de mercúrio. O rasaśāstra, i.e. a ciência do rasa, é a arte de purificar e controlar o mercúrio a fim de utilizar seu poder para evaporar os efeitos do envelhecimento. Como o mercúrio em matéria prima é toxico demais para esta tarefa, o prāṇa é adicionado ao mercúrio para que ele seja purificado previamente. Dessa maneira a capacidade de prolongar a vida através do mercúrio é ativada. Na verdade, ele é trazido à vida, é despertado, ordenado, alimentado, compelido, extasiado e sacrificado. Nessa ciência esse processo de refinamento é chamado de saṃskāra.10

A palavra saṃskāra tem íntima conexão com a palavra saṃskṛta [sânscrito], cuja tradução é aquilo que suporta o saṃskāra. O sânscrito não é uma língua ordinária como aquelas desenvolvidas pelas civilizações através do erro e acerto de escrita e pronúncia. É o produto de uma engenharia fonética. Suas letras e palavras possuem um significado vibracional em adição ao seu significado corrente. É por isso que o sânscrito é chamado de língua mântrica, uma língua em que cada palavra é um mantra. Um mantra é um agrupamento de sons que, quando pronunciados de forma apropriada, criam determinadas vibrações no cérebro e no corpo daquele que os entoa, bem como carrega energeticamente qualquer coisa que o adepto consagre com sua vibração.

Assim como o alimento pode transportar a prece ou o ódio para dentro do sistema, a vibração mântrica pode carregar energeticamente qualquer substância, até mesmo a água, para dentro do corpo. Por serem muito sutis, as medicinas da Āyurveda são carregadas com mantras. Dessa maneira, elas exercem um efeito muito mais profundo em todo organismo, ao contrário dos remédios convencionais comercializados em qualquer farmácia. O processo de manipulação do mercúrio sempre é executado com ervas e mantras e a medicina produzida a partir daí torna-se exponencialmente mais poderosa do que os remédios processados quimicamente cujo preparo se dá exclusivamente através de ervas ou seus princípios ativos isolados.

Uma palavra sânscrita para mercúrio é parada, quer dizer, aquilo que lhe conduz a costa da existência e provê a imortalidade. Na Āyurveda isso é chamado de rasa, pois contém o complemento perfeito para os seis sabores.11 Os yogīs dizem que enquanto as ervas podem mantê-lo vivo por 400 ou 600 anos, o mercúrio pode mantê-lo vivo para sempre. Mercúrio é o único metal ou mineral que pode ser trazido à vida. Os alquimistas criam a vida no mercúrio e depois tomam-na para si: eles sacrificam o mercúrio na intenção de se obter o prāṇa.12

A visão tântrica da Āyurveda

Finalmente, a Āyurveda oferece uma visão feminina – e portanto tântrica – da vida e de tudo o que ela contém. Sua abordagem inclusiva e incondicional reflete a inteireza da Mãe Natureza ou o arquétipo da Deusa na Natureza. Seu objetivo é a busca da harmonia e da paz por meio da compreensão dos três grandes princípios da Deusa Natureza: vida, luz e amor. Na Āyurveda eles são denominados tridoṣa e representam os princípios do movimento (vāta), transformação (pitta) e coesão (kapha) no plano em manifestação da existência. No Tantra, estes princípios são as três manifestações da Deusa Tripura-sundarī, A Beleza dos Três Mundos. Na tradição do Śrī Vidyā, Ela é a principal divindade que governa o fluxo do soma, o néctar místico (amṛta). É a Deusa que abre o sahasrāra-cakra, liberando as mil correntes de soma, inundando o corpo e a mente de suprema felicidade e bem-aventurança.

Como um reflexo da Mãe Divina, a Āyurveda cuida e apoia, usando a estrita disciplina da mãe amorosa para corrigir maus hábitos e ensinar outros que estejam em harmonia com os planos mais elevados do universo. Ela aterroriza e revigora por meio de sua força; subjulga com imensidão e perfeição. Acima de tudo, a Āyurveda ensina como alcançar a paz e viver em harmonia, primeiro no interior de cada um, depois no relacionamento com outras pessoas.

Na Āyurveda, a Mãe Divina se revela para aqueles que dela se aproximam com amor, sempre desejando o bem-estar para todos os seres.


Adendo 1

Prāṇa, Tejas & Ojas
Segredos da Alquimia Yogī


EM conexão com o artigo anterior (Parte 1), esse adendo responde algumas perguntas básicas sobre o ojas enviadas a minha caixa eletrônica. O texto foi retirado do Curso de Aprofundamento em Yoga & Āyurveda (Módulo 2) ministrado pelo Instituto Kaula. Ele traz também informações sobre as outras essências sutis, i.e. prāṇa e tejas.

Você é o mais antigo ṛṣī nascido, o regulador do universo através do poder de ojas.

Ṛg-Veda, VIII: 6.41

O Yoga é um processo alquímico de equilíbrio e transformação das energias da psique. Para que isso ocorra, precisamos compreender como estas energias trabalham de uma forma prática. Vamos adentrar em um nível mais profundo dos doṣas no que concerne a prática do Yoga. Vāta, pitta e kapha possuem contrapartes sutis chamadas de prāṇa, tejas e ojas que podem ser chamados de as três essências vitais. Essas são as raízes ou as formas primordiais de vāta, pitta e kapha que controlam o funcionamento psicofísico ordinário e, se reorientadas de maneira apropriada, energizam os potenciais espirituais elevados. Não são apenas forças do corpo físico, mas dos corpos sutil e causal também.

Prāṇa, tejas e ojas são as formas benéficas ou essenciais de vāta, pitta e kapha, sustentando-os vitalmente. Diferentes dos doṣas, que são fatores de doença, eles promovem saúde, criatividade e bem-estar, promovendo o suporte para as profundas práticas de Yoga e meditação.

·         Prāṇa (força de vida primordial) – que significa energia ou força vital, cujo veículo é a respiração, como vāta, é a energia do ar, mas em uma forma sutil. Representa a habilidade de movimentar os pensamentos e percepções. É a força mestre que guia a inteligência por detrás de todas as funções psicofísicas. Responsável pela coordenação da respiração, dos sentidos e da mente. É responsável também pela expansão e harmonização dos elevados estados de consciência.
·         Tejas (radiância interna) – que significa fogo ou brilho – como pitta, é a energia do fogo ou digestão, mas em sua forma sutil, como o poder de digerir idéias ou emoções. É a vitalidade através da qual digerimos impressões e pensamentos. Governa a expansão de todas as elevadas capacidades de percepção.
·         Ojas (vigor primordial) – que significa força subjacente – como kapha, é a energia da água em sua forma sutil, como o fluído essencial da reserva de energia de toda a estrutura psicofísica ou a capacidade fundamental da paciência, tolerância e persistência. É a energia sutil da água armazenada como essência vital internalizada da comida digerida, água, ar, impressões e pensamentos.

Estas três forças se relacionam. Prāṇa e tejas estão enraizados em ojas e podem ser considerados aspectos de ojas. Tejas é o calor e a energia luminosa de ojas que possui uma qualidade oleosa e, como ghee (manteiga clarificada), pode alimentar a chama. Prāṇa é a energia e a força que vem de ojas após ele ter sido aceso em tejas. Ojas, apropriadamente, é o potencial, a resistência da mente e do sistema nervoso em manter tejas e prāṇa. Ojas tem a capacidade de se transformar em tejas (calor), que possui a capacidade de se transformar em prāṇa (eletricidade).

Prāṇa, tejas e ojas assemelham-se ao conceito de chi, yin e yang da medicina chinesa. Prāṇa, como a força de vida e alento cósmico, é como o chi primordial, que também está relacionado ao vento e ao espírito. Tejas, como o poder da vontade e o vigor assemelha-se ao yang primevo, a forma primordial do fogo. Ojas, como resistência e força, assemelha-se ao yin original, a essência da água.

A regra principal no tratamento ayurvédico é evitar que qualquer um dos doṣas se agrave, pois em excesso eles causam doença. O doṣa predominante em nossa constituição tende sempre a se agravar e é preciso contê-lo através de um estilo de vida apropriado. Isso é conquistado seguindo uma dieta adequada, ervas, exercícios e meditações capazes de conter o doṣa agravado.

Portanto, na prática do Yoga uma nova regra entra em vigor. O yogī procura elevar o caudal de prāṇa, tejas e ojas. Como estas são as formas puras dos doṣas, elas não possuem o mesmo poder de causar a doença. Essas três essências vitais só causam problemas se uma é elevada em proporções muito maiores do que as outras. Elas são basicamente energias benéficas cujo objetivo é a renovação e a transformação. A questão é: como mantê-las crescendo de forma equilibrada de maneira que seu desequilíbrio não nos cause problemas?

O aumento de prāṇa provê entusiasmo, criatividade e a adaptabilidade necessária para se percorrer o caminho espiritual, pois sem ele perdemos energia e motivação para executar as nossas práticas (sādhanā). O aumento de tejas provê coragem, intrepidez e insight necessário para percorrermos o caminho, pois sem ele tomaríamos decisões erradas, escolhas equivocadas e falha na decisão do que precisamos fazer. O aumento de ojas provê paz, convicção e paciência para manter nosso desenvolvimento consistente, pois sem ele perderíamos a estabilidade e a calma. Enquanto estes fatores forem insuficientes, nosso crescimento espiritual será limitado. Eles aumentam a saúde na mente e no corpo, auxiliam no tratamento de todas as doenças, particularmente as crônicas por natureza, e promovem o rejuvenescimento.

As funções de prāṇa, tejas e ojas

Para entender estas três forças, vamos examinar como elas atuam em diferentes aspectos de nossa natureza.

1. Sistema reprodutivo

Prāṇa, tejas e ojas são alimentados pelos fluídos reprodutores que atuam como seu suporte no corpo físico. Eles são os três aspectos do fluído reprodutor transformado (shukla). Ojas é o estado latente do fluído reprodutor que provê não somente o poder de reprodução, mas a força geral do sistema e supre todos os tecidos corporais internos, particularmente o tecido nervoso. Ojas é o poder de suportar e a habilidade de nos suster, não apenas sexualmente, mas através de todas as formas de esforço, físico e mental.

Tejas é o estado ativo do fluído reprodutor quando ele é transformado em calor, paixão e o poder da vontade. Isso ocorre não somente na atividade sexual, mas a qualquer momento em que formos desafiados ou quando precisamos nos manifestar em qualquer circunstância. Tejas nos dá valor, coragem e intrepidez. No Yoga essa força é necessária para nos capacitar na execução de tapaḥ (esforço, sacrifício ou ascese) na prática espiritual transformativa. Prāṇa é a capacidade criativa de vida inerente no fluído reprodutor. Este fluído rejuvenesce, dá longevidade e estimula o fluxo de prāṇa pelas nāḍīs, provendo muita energia para mente. Sem uma reserva apropriada de fluído reprodutor nos tornamos deficientes em prāṇa, tejas e ojas. Atividade sexual excessiva ou degenerada esgota estas três forças.13

2. Sistema endócrino

Prāṇa, tejas e ojas também se relacionam com o sistema endócrino. Prāṇa governa o equilíbrio, a adaptabilidade e o processo de crescimento. As glândulas pineal e pituitária, as controladoras do crescimento e da inteligência, são predominantemente alimentadas por prāṇa. É por isso que muitas desordens no processo de crescimento, como as pessoas que são usualmente muito grandes ou muito baixas, têm problemas de tipo vāta (ar).

Tejas governa o metabolismo e a digestão. As funções da tireóide e do pâncreas estão conectadas a Tejas. A maioria dos problemas metabólicos estão relacionados a natureza de tejas. Ojas governa a reprodução, a reserva de energia e é predominante nos testículos, ovários e na glândula supra-renal. A maioria dos problemas do sistema reprodutor estão relacionadas a ojas. Ojas nos permite controlar o estresse através do suprimento de adrenalina.

Prāṇa, tejas e ojas dão energia ao sistema imunológico. Ojas é a capacidade básica do sistema imunológico, nosso potencial de defender a nós mesmos contra patogênes externas. Ojas provê a resistência, sustentabilidade e força para nos protegermos das doenças.

Tejas é o sistema imunológico capaz de queimar e destruir as toxinas quando ativado. Ele gera a febre que o corpo produz na destruição das doenças que o atacam. Tejas é a capacidade de superarmos doenças agudas, que são geralmente infecciosas por natureza. Tejas é ojas convertido em calor, tepidez e vitalidade. É a habilidade de mobilizar as forças de nosso sistema imunológico.

Prāṇa é o ativador real das funções imunológicas que projetam e desenvolvem a energia de vida, que se manifesta quando lidamos com doenças crônicas. É a adaptabilidade do sistema imunológico e sustenta todos os processos de cura. Com um caudal suficiente de prāṇa, tejas e ojas nenhuma doença pode se consolidar no corpo. Elevar o suprimento de prāṇa, tejas e ojas ajuda a todos nós aumentarmos as condições imunológicas do corpo.

3. Sistema nervoso e as nāḍīs

O sistema nervoso é o sistema mestre que governa todos os outros sistemas do corpo. As três essências vitais são responsáveis por seu bom funcionamento. Prāṇa governa a descarga e a coordenação dos impulsos nervosos, que são forças prânicas de tipo vāta. Quando prāṇa está descontrolado ou deficiente, ocorre hipersensibilidade, tremores e desequilíbrios no sistema nervoso. Tejas promove acuidade perceptiva. Quando em desequilíbrio, tejas queima o sistema nervoso, provocando inflamação no tecido nervoso. Ojas provê resistência e estabilidade ao sistema nervoso. É responsável pela lubrificação dos canais nervosos. Colapso ou exaustão nervosa ocorre por falta de ojas no organismo.

Prāṇa, tejas e ojas comandam também o movimento dos impulsos através das nāḍīs. Ojas é o fluído que reveste as nāḍīs, suavisando o fluxo de energia através delas. Tejas é o calor se movimentando nas nāḍīs. Prāṇa é a energia produzida pelo calor de tejas. A fim de protegermos as nāḍīs precisamos manter um caudal substancial de prāṇa, tejas e ojas.

4. Respiração

As três essências vitais estão intimamente conectadas com a respiração através do prāṇamaya-kośa. Prāṇa é a energia primordial e o movimento da respiração, sua fonte propulsora e seu poder de ação. Tejas é o calor produzido pela respiração, incluindo sua habilidade de vitalizar o sangue. Ojas é a energia profunda e essêncial que absorvemos através da respiração e que estocamos profundamente no coração e plexo solar.

Quando prāṇa encontra-se em desarranjo, a respiração se torna superficial ou ansiosa. Quando tejas está em desarranjo, o calor da respiração torna-se irregular e anormal. Quando ojas encontra-se em desarranjo, a absorção da energia através da respiração torna-se ineficaz. Em outras palavras, nos tornamos incapazes de manter e consolidar o prāṇa. Os praticantes que estão enganjados em uma prática séria de prāṇāyāma-sādhanā devem observar as condições reais de prāṇa, tejas e ojas no organismo.

5. Sentidos

Prāṇa, tejas e ojas como poderes da mente operam através dos sentidos. Prāṇa mantém o equilíbrio e a coordenação dos impulsos sensoriais. É predominante nos ouvidos (principalmente o sentido de audição interior) e na pele, cuja predominância é vāta (éter e ar). Tejas é responsável pela acuidade das percepções sensoriais e a habilidade de digerir as impressões. É predominante nos olhos, cujo sentido é tipo pitta (fogo). Ojas é responsável pela estabilidade dos sentidos. É predominante na língua e nariz, cujo sentido é tipo kapha (água e terra).

6. Criatividade

Em um nível interior, prāṇa, tejas e ojas são instrumentos de criatividade. Ojas é a capacidade criativa latente, o armazém de energia criativa. Tejas é a visão criativa, a habilidade de sempre ver o novo e a capacidade de quebrar o velho (principalmente na forma de paradigmas). Prāṇa é a ação criativa que coloca o novo em movimento. A quantidade apropriada de ojas é necessária para nos dar uma boa reserva de energia criativa. A quantidade apropriada de tejas serve para dirigir nossa energia criativa para fins e projetos específicos. A quantidade apropriada de prāṇa mantém nossa criatividade móvel e transformativa. Sem uma quantidade suficiente de prāṇa, tejas e ojas somos incapazes de realizar mudanças positivas na vida.

7. Mente e alma

Prāṇa, tejas e ojas existem nos mais profundos recessos da mente e na alma. A força prânica por trás da mente permite que ela se movimente e responda, provendo sua energia básica. A força de tejas na mente permite que ela seja perceptiva e determinada, provendo a ela iluminação e calor. A força de ojas na mente permite que ela seja paciente, consistente e estável na aplicação de seu foco, de sua concentração.

Cada um deles sustenta determinado tipo de emoção. Prāṇa provê harmonia emocional, equilíbrio, entusiasmo e regozijo. Tejas provê coragem e intrepidez que nos permite realizar ações heróicas ou extraordinárias. Ojas promove a paciência emocional, amor, calma e contentamento. Sem essas forças emocionais a mente permanece instável.

Similarmente, existe prāṇa em nossa consciência profunda que guia a alma através de todo o processo de encarnação, criando e energizando suas várias corporificações. O tejas da alma é seu insight acumulado e sua sabedoria, a chama da aspiração espiritual. O ojas da alma é o material através do qual ela produz e sustenta todos os corpos. Estes níveis superiores de prāṇa, tejas e ojas residem com a alma no coração, o último ponto de origem e fim. Os Vedas se referem à alma como prāṇa ou tejas.

8. Kuṇḍalinī – a energia da Śakti & Amṛta – a energia de Śiva

Em essência, a kuṇḍalinī se desenvolve a partir de prāṇa, tejas e ojas, mas principalmente através de tejas. Como fogo interior, é a energia superior de tejas que desperta a força prânica ao mesmo tempo em que encontra sustentação na força superior de ojas. A kuṇḍalinī como fogo sutil é uma forma de relâmpago ou força elétrica em um nível interno.

A kuṇḍalinī como tejas é uma energia altamente feminina ou yoga-śakti, o poder do Yoga, necessária para catalizar todos os elevados potenciais superiores dentro de nós. Oposto a kuṇḍalinī está o amṛta ou néctar que desce do cakra bindu e alimenta a kuṇḍalinī em sua ascensão. Essa é a energia purificada de ojas no corpo sutil que é extraída e destilada através das práticas espirituais. Ojas é a energia masculina superior de Śiva que, através da resignação, cuidado e proteção, cai na graça divina. Enquanto alguns experimentam o fogo ascendente, outros experimentam a descida do néctar.14

A união de tejas (kuṇḍalinī) e ojas (amṛta) cria a forma mais elevada de prāṇa, a energia imortal de vida que a kuṇḍalinī carrega, da mesma maneira que uma mãe carrega sua criança. Essa energia tem o poder de criar samādhis elevados necessários para dissolver os condicionamentos profundamente aterrados em nossa consciência e que causam nosso apego ao ciclo de nascimentos e mortes. Esse prāṇa imortal é a criança divina ou criança da imortalidade forjada pela forma mais elevada de tejas e ojas.

Este prāṇa mais elevado é o poder ou a śakti de nossa inteligência superior (buddhi) que nos capacita a discriminar entre o eterno e o transitório, o divino e o profano, provendo iluminação a alma. Sem essa energia sutil na mente, seja lá qual meditação nós fizermos ou qual insight nós ganharmos, não seremos capazes de mantê-lo ou consolidá-lo.

Aumentando prāṇa, tejas e ojas

Prāṇa, tejas e ojas podem ser desenvolvidos de várias maneiras. Nós possuímos certa quantidade deles congenitamente, o que se reflete na força inerente de nossa constituição, mas eles podem ser aumentados por meio de várias práticas. Primeiro eles precisam ser purificados (sattvicados) para que seus efeitos yogīs se manifestem. Isso requer uma dieta pura e um estilo de vida dhármico, junto com o controle da mente, emoções e sentidos, da maneira como o Yoga ensina. Em outras palavras, o estilo de vida yogī é o fundamento do trabalho com prāṇa, tejas e ojas.

Aumentando ojas

A quantidade de ojas no organismo pode ser elevada através de várias maneiras, mas as seguintes são as mais importantes:

1.     Dieta adequada
2.     Ervas tonificantes
3.     Controle da energia sexual
4.     Controle dos sentidos
5.     Devoção (bhakti-yoga)

1. Dieta adequada

Ojas, como uma substância material sutil e essência dos tecidos, requer como suporte material uma dieta adequada. Isso envolve uma dieta vegetariana nutritiva com uso de grãos, sementes e nozes, óleos, raízes vegetais e açúcares naturais. A forma bruta de ojas pode ser desenvolvida através de produtos animais, mas eles são muito pesados e não possuem valor na busca espiritual. Uma dieta sattvíca será esboçada no Módulo IV, com ênfase na nutrição: grãos, lacticínios, sementes, nozes, óleos e frutas.

2. Ervas tonificantes

Ervas para ojas são principalmente de natureza tônica e nutritiva, possuindo valor alimentar e de potencial rejuvenescedor (que produzem soma), como ashwagandha ou ginseng. Elas são geralmente ingeridas junto com a alimentação. No Módulo IV abordaremos algumas ervas que aumentam a energia física e a vitalidade da produção e fortificação de ojas.

3. Brahmacarya

O controle da energia sexual (brahmacarya) significa, aqui, reduzir a descarga de fluído reprodutor.15 Isso é crucial para o desenvolvimento de ojas e pode ser realizado pela diminuição da atividade sexual. Em dimensões menores, a atividade sexual pode ser praticada sem atingir o ápice do orgasmo, o tipo de prática realizada por algumas tradições tântricas e taoístas. Só porque a restrição sexual é difícil para nossa sociedade sexualmente orientada, não podemos ignorar o seu valor no Yoga. Não é uma questão de moralidade, mas de energia. Se nós descarregamos a energia sexual, que é a energia mais forte do corpo, não teremos combustível (energia) suficiente para mantermos uma prática disciplinada e dela tirar os proveitos necessários para nosso crescimento espiritual. Mas nós podemos fazer isso através da aspiração espiritual para que possamos sublimar essa energia. A mera repressão não nos fará ir muito longe nesse caminho.

4. Controle dos sentidos

O controle dos sentidos requer a redução da quantidade de energia perdida através da indulgência sensorial, o que inclui se abster das principais formas de entreterimento, particularmente através da mídia de massa (indústria cultural). Muita energia é perdida através dos olhos e ouvidos. Isso é parte da prática de pratyāhāra (retração sensorial). O uso excessivo dos órgãos motores também esgota ojas, particularmente falar demais. Trabalho excessivo ou estafa de qualquer tipo deve ser evitada enquanto ojas está em deficiência.

5. Devoção

A devoção (bhakti-yoga) é a melhor prática yogī para o desenvolvimento de ojas. Isso significa redirecionar nossa energia emocional para o interior pelo amor por Deus através de nossas muitas interações. A devoção nos ajuda a controlar os sentidos e a sexualidade, transmutando as emoções animalescas em sentimentos mais refinados. Isso pode ser conquistado através de várias práticas devocionais como rituais de adoração, orações, repetição dos nomes divinos, serviço a Deus ou ao guru.

Aumentando tejas

Uma vez que ojas seja suficiente, podemos focar nossa atenção em tejas. Tejas pode ser desenvolvido através de:

1.     Controle da fala e outras austeridades (tapaḥ)
2.     Mantra
3.     Dhāraṇā
4.     Yoga do conhecimento (jñāna-yoga)

1. Controle da fala

O controle da fala implica em se abter da conversa tola, sem objetivo e da verborréia, tagarelice, bem como dos apontamentos críticos e abusivos. Períodos de silêncio (mouna) são de muita ajuda como não falar por um dia, uma semana ou todos os dias, durante os períodos de reclusão e práticas pela manhã ou noite. Isso auxilia a desenvolver a energia interna do insight e nos ajuda a conquistar um estado de testemunha – o draṣṭṛ interior – segundo Patañjali. Outras austeridades como jejuns ou manter o estado de vigília durante a noite são boas ferramentas no desenvolvimento de tejas porque aumentam o fogo da determinação.

2. Mantra

Mantra é a forma superior de controle da fala que desenvolve o fogo interior. A kuṇḍalinī veste-se com a guirlanda de letras do alfabeto sânscrito, portanto, podemos dizer que ela é feita de mantras. Existem muitas maneiras de se executar as práticas mântricas. A repetição (japa) de mantras e bīja-mantras, particularmente o Oṃ, Hūṃ e o Hrīṃ. Mantras longos como o gāyatrī ou o mahā-mṛtyunjaya-mantra são muito bons. O processo de utilização do mantra chama-se japa-yoga ou a prática de repetição mântrica. Portanto, japa-yoga faz parte da ciência do mantra-yoga. Quatro estágios diferentes de repetição mântrica foram classificados: 1. baikharī, 2. upanśu ou madhyāma, 3. manasi ou paśyanti e 4. pāra.

Ø  Baikharī ou repetição verbal é o estágio inicial de japa-yoga. Quando o mantra é pronunciado verbalmente, deve haver clareza de fala e entonação, concentração e consciência. A pronúncia correta é muito importante. Se há intensidade, concentração e clareza na prática, o mantra irá operar efetivamente e irá alterar a estrutura da mente (atitude e comportamento mental). Isso se aplica ao kīrtan também. Às vezes nós fazemos modificações nos kīrtans que estejam em concordância com a maneira que estamos mais acostumados a cantar. Portanto, preste atenção no que se segue.

Baikharī pode ser realizado de cinco maneiras diferentes, como se segue:

·         Repetição verbal e contínua em voz alta;
·         Repetição verbal conjugada com a respiração;
·         Repetição verbal conjugada com a mālā;
·         Repetição verbal conjugada com atividade física;
·         A prática de kīrtan, cantando e entoando mantras em diferentes tons ou ragas.

No primeiro método existe a repetição verbal contínua em um tom estável desprovido de oscilações. Quando o mesmo mantra é cantado em coro, com diferentes tipos de entonação, ele se torna um kīrtan. O segundo método é a repetição verbal conjugada com a respiração. Nós não podemos repetir o mantra enquanto inspiramos, mas somente quando expiramos. Assim, a inspiração é normal e o mantra é entoado em voz alta enquanto se expira. O terceiro método é a repetição verbal conjugada com a mālā. Essa prática é similar ao primeiro método, a repetição verbal contínua, mas a consciência é fixada no movimento de cada conta, o que mantém a mente alerta e a atenção no mantra. O quarto método é a repetição mental conjugada com atividade física, que pode ser uma caminhada, o sentar-se pacificamente, trabalhar no jardim ou na cozinha, viajar etc.

Ø  Upanśu ou madhyāma é o próximo estágio de japa-yoga. Upanśu significa som murmurante. Em baikhirī-japa a repetição do mantra pode ser executada em grupo ou solitariamente. Nestas duas situações o mantra é entoado em voz alta. Contudo, se existem pessoas presentes na hora da execução do mantra que não entendem o que você está fazendo ou que não têm a mesma disposição mental, então a entoação deve ser murmurante. O murmúrio auxilia a manter a consciência no mantra quando a mente se introverte, mas ainda existindo alguma atividade nela.

Upanśu-japa pode ser realizado de quatro maneiras diferentes, como se segue:

·         Repetição murmurante contínua;
·         Repetição murmurante conjugada com a respiração;
·         Repetição murmurante conjugada com a mālā;
·         Repetição murmurante conjugada com atividade física.

Neste estágio, não há canto em grupo ou kīrtan.

Ø  Manasi ou paśyanti é o estágio da japa (repetição) mental. Manasi significa mental e paśyanti significa ver através dos olhos da mente. Manasi-japa pode ser realizado de cinco maneiras diferentes, como se segue:

·         Repetição mental contínua;
·         Repetição mental conjugada com a respiração;
·         Repetição mental conjugada com a mālā;
·         Repetição mental conjugada com a concentração em um símbolo;
·         Repetição mental conjugada com escrita psíquica no cidākāśa;
·         Repetição verbal conjugada com atividade física.

Estes são os cinco métodos de manasi-japa. A repetição mental conjugada com a concentração em um símbolo, yantra, imagem de deidade ou do guru. A repetição mental conjugada com escrita psíquica no cidākāśa é raramente utilizada e nos próximos módulos estudaremos essas práticas conjugadas. Aqui não ocorre a visualização de símbolos ou yantras, mas a forma escrita do mantra, seja em caracteres latinos ou sânscrito, não importa. Neste processo você pode escrever, por exemplo, Oṃ Namaḥ Śivāya no cidākāśa enquanto repete o mantra mentalmente na medida em que a visão se movimenta pelas letras que formam o mantra. A mente segue a repetição se concentrando nas letras escritas no cidākāśa.

Ø  Pāra ou repetição transcendental é o último estágio de japa-yoga. Pratica-se pāra apenas de uma maneira: ajapa-japa (repetição contínua e espontânea ou sem esforço). Ela frequentemente ocorre quando interrompemos a repetição do mantra conscientemente. Em outras palavras, a repetição continua de forma involuntária na mente, permanecendo nela, vibrando todo o tempo. Isso ocorre quando o mantra energiza a mente pela sua repetição constante. Este estado não é atingido apenas por mantras, bījas etc., mas com kīrtan ou outra composição musical. A vibração continua na mente, sem nenhum tipo de esforço consciente ou controle mental por parte do praticante. A repetição torna-se como uma obsessão mental. Este é o aspecto do mantra conhecido como pāra-japa e nós o experienciamos de acordo com a sensibilidade e o envolvimento de nossa mente com o mantra. Estes são os quatro estágios de japa-yoga.

3. Dhāraṇā

Exercícios de concentração (dhāraṇā) envolvem o foco da mente em um objeto particular, que pode ser externo como a chama da vela ou a imagem do guru ou interno, como a visualização de alguma deidade ou elemento, idéia ou princípio dhármico. Concentração provê acuidade mental e ascende o fogo interior. A concentração na luz interna na região do bhrumadhya (ponto entre as sobrancelhas) é um importante método de se desenvolver tejas. Aprender a direcionar o poder da visão ajuda nesse processo. É tejas quem permite que o terceiro olho, o ājñā-cakra, desperte.

4. Yoga do conhecimento

O Yoga do conhecimento (jñāna-yoga) é de predominância ígnea, particularmente a prática da inquirição, como a auto-inquirição. Essa prática consiste em manter a consciência na constante indagação quem sou eu?, deixando passar todos os outros pensamentos. Tejas aumenta através do desenvolvimento da discriminação (viveka), que significa discernir entre o eterno e o transitório, entre a verdade imutável e os nomes e formas sempre em transformação. Esse é o movimento fundamental da inteligência superior (buddhi) na medida em que ela desperta em nós como im insight sutil.

Aumentando prāṇa

Uma vez que ojas e tejas tenham sido desenvolvidos, uma forma superior de prāṇa pode ser cultivada. O prāṇa é especialmente desenvolvido através do prāṇāyāma, mas existem outros métodos que podem auxiliar no processo de cultivo dessa energia mais sutil:

1.     Prāṇāyāma
2.     Meditações com ênfase no espaço e som
3.     Pātañjala Yoga

1. Prāṇāyāma

Prāṇāyāma desenvolve o prāṇa não somente em um nível externo, mas em um nível interno também. Na medida em que a inspiração e a expiração se tornam equilibradas, entramos em contato com o prāṇa interior. Isso nós experimentamos como um sentido de luminosidade, expansão e ascensão da energia. Contudo, prāṇāyāma pode ser utilizado para desenvolver tejas e ojas e funcionar como elemento de integração dessas três forças. Prāṇāyāma gera calor, particularmente através da retenção da respiração, que aumenta tejas, que se relaciona ao fogo da respiração (prāṇagni). Prāṇāyāma ajuda a transformar o fluído reprodutor e as formas inferiores de ojas em energias espirituais mais sutis. No Módulo V estudaremos mais sobre prāṇa e prāṇāyāma.

2. Meditação

Meditação no espaço ou vazio é outra maneira de se desenvolver prāṇa. Prāṇa nasce do espaço. Aonde quer que espaço seja criado, ali existe prāṇa. A criação de um espaço interior (como p.e. o cidākāśa) cria um prāṇa interno automaticamente. Uma forma de se gerar prāṇa é meditar sobre os sons internos (nāda-ānusandhāna), que surgem do espaço interior. O coração em si mesmo é a região do espaço interior e a fonte primordial do som (nāda). Meditação no som e espaço no coração (hṛdayākāśa-dhāraṇā) nos conecta com o poder original do prāṇa.

3. Yoga da Atividade Meritória

O Yoga da Atividade Meritória (pātañjala-yoga) enfatiza a utilização do prāṇa para acalmar a mente junto com outras técnicas como mantra, concentração e meditação. Prāṇa é a força móvel da adaptabilidade da consciência gerado através de diversos métodos meditativos. De acordo com o pātañjala-yoga, os vṛttis ou movimentos da consciência são controlados pelo prāṇa. Portanto, através da manipulação do prāṇa estabilizamos os movimentos da consciência.

Pātañjala-yoga é uma prática integral que combina tanto o Yoga do conhecimento quanto o Yoga da devoção. Portanto, sua execução desenvolve prāṇa, pois este nasce da união da sabedoria com a devoção. Assim, as práticas para ojas e tejas devem ser executadas juntas. Por exemplo, as práticas de jñāna-yoga são muito boas pela manhã e as práticas de bhakti-yoga pela noite.

Mantendo prāṇa, tejas e ojas em equilíbrio

Como estas três forças estão intimamente conectadas, todas as práticas acima relacionadas ajudam a desenvolver as três. Um desenvolvimento integral de prāṇa, tejas e ojas, portanto, é a chave para um equilibrado crescimento interior. Ojas não apenas provê uma reserva forte de energia vital, ele também desenvolve força e maturidade de caráter e estabilidade emocional. Ojas cria o receptáculo necessário para manter prāṇa e tejas que, de outra maneira, se dissipam. Uma pessoa pode ter uma mente brilhante ou um coração hiper-sensitivo, mas nenhum deles pode ajudar na senda espiritual sem a reserva apropriada de ojas ou sumo vital para suportá-los. Sem ojas, qualquer prática yogī e meditativa quase não possui valor, pois elas não têm sustentação adequada. Talvez, a primeira pergunta que um indivíduo supostamente interessado na prática profunda do Yoga deveria fazer é: será que tenho ojas o suficiente para sustentar minha prática?

Prāṇa é mantido por ojas, que é seu condutor. Se nós aumentarmos prāṇa sem ojas, teremos muita energia, mas não seremos capazes de mantê-la. Podemos ficar perturbados, senão loucos. A mente e o sistema nervoso podem ficar completamente transtornados. Tejas repousa em ojas, que é seu combustível. Se nós elevarmos a capacidade crítica da mente, nosso poder de discriminação (tejas), sem aumentarmos ojas, literalmente queimaremos a nós mesmos. O conhecimento espiritual somente pode ascender se for alimentado com o combustível do amor.

Uma vez que ojas esteja em uma taxa equilibrada no organismo, o praticante precisa desenvolver tejas para utilizá-lo. Isso requer vontade, insight e discernimento: escolhendo um caminho correto e seguindo-o consistentemente. Assim ele desenvolve prāṇa, que nasce da união de tejas e ojas. Uma vez que tenhamos uma correta estrututa e estejamos seguindo o caminho certo, prāṇa nos permite deslizar com suavidade pela caminhada.

Prāṇa, tejas e ojas e a doença

Geralmente, qualquer excesso nos doṣas, seja vāta, pitta ou kapha, eventualmente irá debilitar prāṇa, tejas e ojas. Os doṣas, quando em excesso, também impedem o desenvolvimento de suas formas sutis ou superiores.
Vāta agravado seca ojas assim como o vento seca a água. Ele enfraquece tejas assim como o vento oscila o fogo ou o apaga. Também, vāta agravado esgota o prāṇa. Quando vāta se forma como gás dissipado, a forma sutil do prāṇa, que é como uma fragrância refinada, não pode se formar.

Pitta agravado queima ojas, da mesma maneira que a chama consome o óleo que a alimenta. Ele enfraquece o prāṇa da mesma maneira que o calor e a febre exaurem a vitalidade. Pitta agravado prejudica tejas. O doṣa pitta é a forma bruta de tejas que não pode ser convertida na essência vital de tejas, da mesma maneira que o óleo cheio de impurezas não pode produzir uma boa chama. Tejas é o valor e a coragem. Pitta agravado é a raiva e a paranóia. Quando pitta está agravado, as qualidades superiores de tejas não se manifestam.

Quando tejas e prāṇa se elevam demais, podem prejudicar ojas, mas isso não ocorre por muito tempo, afinal estão destruído sua base, raiz e sustentação. Excesso de tejas é como uma grande chama que consome seu combustível e depois perece sem alimento. É como o saldado em um campo de batalha que com coragem dá tudo de si até se esgotar e voltar atrás como um covarde. É diferente de pitta agravado porque a exaustão de ojas nesse caso não ocorre por toxinas em excesso, mas pelo uso excessivo da energia positiva. Similarmente, uma pessoa com grande quantidade de prāṇa pode exaurir ojas por excesso de trabalho. Pessoas novas em particular podem ter taxas elevadas de prāṇa ou tejas antes de ojas ser exaurido. Isso ocorre porque eles possuem uma boa qualidade congênita de ojas para usar.

Desordens profundas na vitalidade envolvem o desequilíbrio de prāṇa, tejas e ojas, o que afeta os sistemas corporais – os sistemas reprodutivo e nervoso, os sentidos e a mente. Isso inclui desordens no crescimento das crianças, envelhecimento prematuro, problemas metabólicos, desequilíbrios hormonais, problemas no sistema nervoso, alergias e a maioria das doenças degenerativas do câncer a AIDS. Quando essas energias sutis estão em desordem, as funções físicas são perturbadas em um nível profundo, o que afeta todos os sistemas e órgãos. Desequilíbrios psicológicos afetam o prāṇa, tejas e ojas, que estão intimamente conectados aos sentidos, emoções e a mente. Isso inclui ansiedade, raiva, depressão, apego e aflição. Aumentando prāṇa, tejas e ojas, a maioria dos problemas psicológicos podem ser suavizados.

A maioria das desordens meditativas são causadas pelo desenvolvimento desequilibrado de prāṇa, tejas e ojas. A causa principal é a insufuciência de ojas. Sem a quantidade apropriada de ojas, o aumento de tejas pode queimar as nāḍīs do corpo sutil. Isso pode ocorrer da prática excessiva da meditação ou japa sem a quantidade necessária de ojas para seu suporte. Sem a quantidade apropriada de ojas, o aumento de prāṇa causa uma locomoção interna desequilibrada da energia vital. Isso pode ocorrer através da prática excessiva de prāṇāyāma ou a tentativa de se esvaziar a mente sem a quantidade necessária de ojas para seu suporte. Portanto, seja cuidadoso em assumir práticas poderosas sem a quantidade necessária de ojas para suportá-las.

O Yoga é um processo alquímico que requer conhecimento das forças que estamos trabalhando. Não é mero pensamento anelante e nem ocorre somente na mente. A ciência ayurvédica do prāṇa, tejas e ojas provê um entendimento das forças sutis do Yoga. Mesmo que o assunto seja muito mais profundo que esse breve resumo que esboçamos neste capítulo, esteja atento a estas energias espirituais que atuam por trás dos doṣas.

Examinando prāṇa, tejas e ojas

Prāṇa, tejas e ojas têm sinais e causam vários sintomas em nosso complexo psico-físico através dos quais nós podemos monitorar suas condições. Como todas as práticas do Yoga geralmente aumentam estas três forças, há sempre o perigo de uma se elevar acima das outras, provocando efeitos colaterais. Para praticar Yoga de uma maneira segura e de forma que garanta bons resultados todas essas três forças têm de ser mantidas dinamicamente equilibradas. É sempre possível que uma delas esteja em deficiência ou excesso em condições temporárias. Muitas doenças que são consideradas como desordens da kuṇḍalinī ou de práticas meditativas são, na verdade, desequilíbrios nas condições de prāṇa, tejas e ojas. Portanto, no processo de crescimento interior, devemos avaliar se as condições de prāṇa, tejas e ojas são suficiente ou estão em deficiência ou excesso.

Sinais de suficiência de prāṇa, tejas e ojas

·         Prāṇa é suficiente quando a respiração é completa e profunda, quando o corpo se sente leve e limpo, quando os membros são flexíveis e se movimentam com facilidade, quando a capacidade de escuta é bem desenvolvida, quando há vitalidade, capacidade de ação e quando uma pessoa tem a habilidade de compreender muitos pontos de vista.
·         Tejas é suficiente quando o corpo é capaz de suportar o frio, quando a pele tem brilho, quando os olhos são radiantes, quando a fala e a percepção são claras, quando o poder de visualização é bom, quando a discriminação e o julgamento correto prevalecem, quando o poder da razão é elevado, quando existe auto-confiança e coragem, quando existe liberdade das desilusões, expectativas, apegos emocionais e medos.
·         Ojas é suficiente quando o sistema imunológico é forte, quando existe energia em abundância no sistema reprodutivo, quando a mente e as emoções são calmas e estáveis, quando existe resistência, estabilidade, equanimidade e intrepidez. Quando existe fé, amor, devoção, resignação e paciência.

Sinais de excesso de prāṇa, tejas e ojas

·         Excesso de prāṇa causa perda de controle mental, perda de coordenação motora e sensorial, com possíveis tremores e movimentos erráticos. Existe a sensação de perda da estabilidade e perda da identidade. Podem ocorrer ansiedade e palpitação junto com insônia e perda geral do equilíbrio sistêmico.
·         Excesso de tejas causa sobrecarga na mente discriminativa e crítica, com possibilidade de delírio, dor de cabeça, e a sensação de queimação nos olhos e cabeça. A clareza é excessiva ou destrutiva e a pessoa pode ser pega pelo labirinto das dúvidas e negatividades. Raiva, irritabilidade e a criação de inimigos podem ocorrer. No caminho espiritual, pessoas com tejas em excesso tornam-se manipuladoras, dominadoras, apontando apenas os defeitos alheios e podem ter ilusão sobre seu poder e conhecimento, o que leva a paranóia.
·         Excesso de ojas causa peso e embotamento na mente, bem como um sentimento de contentamento distorcido que impede o crescimento em todas as áreas. Geralmente, ojas em excesso causa muito menos problemas que prāṇa e tejas em excesso, que são os fatores principais das desordens mentais. Prāṇa agravado (excesso de ar) seca ojas e tejas agravado (excesso de fogo) o queima. Portanto, excesso de prāṇa e tejas estão sempre associados a deficiência de ojas.

Sinais de deficiência de prāṇa, tejas e ojas

·         Quando prāṇa é deficiente a respiração é superficial e rápida, o corpo se sente poesado, falta vitalidade e vontade de trabalhar, tornando-se letárgico, apático, preguiçoso e lento. Existe a falta de energia mental, entusiasmo e acuidade. A força de vida e energia de cura diminuem e não é possível experimentar a transformação de novas energias. A mente e os sentidos se tornam débios e sem motivação. As atitudes se tornam conservadoras e rígidas, sempre baseadas em paradigmas há muito tempo ultrapassados.
·         Quando tejas é deficiente o corpo fica frio, a pele fica pálida, os olhos perdem a luminosidade, a fala e a percepção tornam-se confusas e nebulosas, julgamento e discriminação não são tão claros e a pessoa pode experimentar a irracionalidade, ingenuidade ou ficar cheia de idéias equivocadas. Quando tejas está muito deficiente falta à capacidade de inquirição e discernimento. A pessoa aceita qualquer coisa e perde o poder de aprender com as experiências e digeririr as impressões. Mentalmente, a pessoa torna-se passiva e impressionável, tornando-se facilmente objeto de manipulação.
·         Quando ojas é deficiente o sistema imunológico é fraco, as secreções reprodutivas são exauridas, a mente e as emoções tornam-se instáveis e a pessoa facilmente se aborrece com barulhos ou luzes. Existe medo, ansiedade, inquietação e insônia. Quando ojas é deficiente perde-se a auto-confiança, concentração, memória e fé. Não há consistência nos pensamentos e nem equilíbrio emocional. Pode ocorrer a exaustão nervosa (colapso nervoso).


Adendo 2

Kuṇḍalinī


A PRIMEIRA parte deste artigo, disponível no blog Escritos de Fernando Liguori (Cf. nota 1), trazia informações acerca do processo espiritual do despertar da kuṇḍalinī e seus possíveis distúrbios associados. O artigo inter-relaciona a terapia através do kuṇḍalinī-yoga com os aspectos espirituais da Āyurveda. Recordando: muitos dos diagnósticos relativos a distúrbios mentais na verdade são desordens no despertar da kuṇḍalinī. A Revista Yoga Vidyā (Vol. I, No. 4), editada pelo Instituto Kaula, trata enfaticamente desse tema em vários artigos e ao leitor é indicado sua leitura. No presente, algumas outras informações são necessárias, uma vez que a maioria das dúvidas enviadas a minha caixa eletrônica são sobre este tema. Tenho muito a agradecer aos leitores de meu blog por enviarem suas indagações, sugestões e o mais importante, relatos de casos riquíssimos em informação. Desde a publicação do artigo Kuṇḍalinī & Esquizofrenia, também disponível no blog, iniciamos um processo de pesquisa filiado a Associação Internacional de Pesquisa sobre a Kuṇḍalinī [Kuṇḍalinī Research Association International], fundada por Georg Tompkins, um adepto que por muitos anos esteve associado ao pândida Gopī Kṛṣṇa e a Bihar School of Yoga. Esse trabalho nos deu a oportunidade de ir a fundo nas pesquisas acerca da kuṇḍalinī tanto em sua abordagem terapeutica como espiritual. A presente seção, portanto, dá continuidade ao estudo da primeira parte deste artigo, conectando os temas principais abordados nessa segunda parte: rejuvenescimento e imortalidade.

Pode-se utilizar o mercúrio nos processos de rejuvenescimento, mesmo que não se acredite ser ele o sêmen do Senhor Śiva. Contudo, para se tirar o maior proveito da terapia à base de mercúrio, é essencial alguma forma de pūjā (adoração) a Ele. O Senhor Śiva faz sua morada em cada um de nós, profundamente no cérebro, na forma de consciência pura. A imortalidade somente é possível quando o Śiva interior possui o completo controle de sua Śakti (poder), que é a própria ahaṃkāra.16 Na medida em que essa śakti permanece em um estado de consciência ordinário, aprisionada ao tempo, identificando si mesma continuamente com o corpo e a personalidade limitada, lhe chamamos de ahaṃkāra e ela cria o sentido de egoidade. A existência humana somente é possível porque ahaṃkāra ilude a si mesma acreditando ser idêntica ao complexo-personalidade.

Despertando do sono da ignorância, ahaṃkāra percebe que não é como o complexo personalidade limitado e impermanente. Ela não mais pretende fingir que algo tão limitante como o sentido de separação seja seu tudo. Nesse estágio ela é conhecida por outro nome, a saber: kuṇḍalinī. Na medida em que desperta a kuṇḍalinī assume o papel da Śakti de Śiva e com o ímpeto de seu poder força sua subida para o alto novamente através da espinha, a fim de se encontrar com seu amado consorte. Quando a kuṇḍalinī inicia seu despertar em alguém que não se preparou através de práticas austeras, a experiência transporta a pessoa para além do tempo ordinário em direção ao infinito. Nessas circunstâncias, o corpo não consegue resistir e danos podem aparecer em todo sistema. É como se a kuṇḍalinī se esquecesse completamente da estrutura psico-física em seu saudoso caminhar em direção a Śiva.17 Quando ela sacrifica sua identidade no altar de seu amado, instantaneamente ilumina todo o sistema.

Os yogīs, lúcidos pela consciência-śiva, preparam seu corpo, mente e espírito a fim de suportarem essa profunda experiência evolucionária. Por essa razão permanecem jovens e fortes. Dessa maneira eles atingem a imortalidade e mantêm seus corpos vivos para sempre, instruindo a kuṇḍalinī a se encontrar com seu amado esposo no topo do sahasrāra-cakra. Isso é saúde absoluta, total controle da ahaṃkāra e suas defesas imunes.

Muitas pessoas seguem disciplinas espirituais, esperançosas por se tornarem iluminadas através da meditação e outras austeridades. A grande maioria possui um nebuloso conhecimento acerca da fisiologia física e mental e menos são aqueles que possuem o conhecimento da Āyurveda, uma ciência de cura espiritual que nos provê discernimento para conhecer os processos internos. Às vezes esses buscadores experimentam algumas siddhis (poderes) conectadas a experiência da kuṇḍalinī, não discernindo entre o efeito e a causa. Sendo a fonte de toda a vida, a kuṇḍalinī é a mais poderosa de todas as medicinas. Ela cura todas as mazelas se devidamente cortejada e pode provocar até a morte se inapropriadamente for trabalhada.

Pessoas despreparadas física e mentalmente para a potente e espetacular jornada da ahaṃkāra para longe de seu pedacinho do céu – no limitado corpo físico – e o complexo-personalidade podem sofrer danos físicos e psíquicos severos e permanentes como o resultado de um despertar parcial ou desordens no processo do despertar. A crise da kuṇḍalinī, uma doença onde o poder da kuṇḍalinī é liberado em fúria em um organismo despreparado pode desencadear sérias desordens. Como câncer, é uma verdadeira investida contra a personalidade.

Se a personalidade tenta resistir ao despertar da kuṇḍalinī a crise ocorrerá. Há relatos que seu completo despertar em um organismo despreparado leva a morte porque a kuṇḍalinī se esquece completamente do corpo físico. O processo é como transmitir milhões de volts através de um fio que suporta somente 110 volts. O fio instantaneamente é queimado e nenhuma parte dele permanece utilizável.

Se, contudo, a kuṇḍalinī for despertada somente de forma parcial ela irá agredir o sistema nervoso e endócrino na medida em que atua neles. Como no exemplo anterior, se uma tensão de 220 volts passa por um fio de 110 volts, a fita isolante irá derreter e o fio será destruído, mas sua integridade essencial permanecerá. Infelizmente, ele não irá funcionar novamente sem o devido reparo. Em um organismo despreparado, a experiência da kuṇḍalinī queima a fita isolante do sistema nervoso, consumindo alguns dos principais controles endócrinos do corpo. A vida permanece, mas completamente desequilibrada.

Em pessoas tipo vāta ou acometidas por distúrbios vāta, a kuṇḍalinī atua como a força de um furacão ou tornado. Nos tipos pitta ou com agravo de pitta, a kuṇḍalinī queima todo sistema. Os tipos kapha são mais resistentes, mas na medida em que a crise se agrava, eles esmorecem diante do fogo ou são solapados pela ventania. Quando o organismo está cheio de ama (toxinas), essa ventania distribui ama por todo o sistema e o fogo cozinha ama transformando-a em um virulento veneno.

Isso já é o bastante para essa grande parte de buscadores: a percepção de que o perigo envolvido no avanço espiritual pode ser o perigo de extinção da personalidade. O medo da morte da personalidade limitada é à base da crise da kuṇḍalinī. A percepção da extinção da personalidade choca e terrifica, conduzindo os indivíduos ao retorno, ao retiro... Infelizmente, não há retiro, não há retorno! Não se pode voltar para casa uma vez que o furacão da kuṇḍalinī a destruiu. Muitos que sofrem desta ruptura da śakti vivem no limbo, incapazes de seguir adiante e impossibilitados de retornar, imobilizados pela profundidade de seus medos.

Para quem está passando pelo processo, a crise da kuṇḍalinī é uma travessia aterrorizante, incontrolável, pois é uma desordem da ahaṃkāra, uma desordem que ameaça a integridade da personalidade. Se a personalidade passa pelo estado de dissolução, como pode ter controle sobre algo? Por conta disso Śiva é conhecido como o deus da morte e por isso todos aqueles que esperam passar pelo despertar da kuṇḍalinī sem comprometer a integridade da personalidade devem ter Śiva como seu Guru.

Em nenhum outro desequilibro o axioma a prevenção é melhor que a cura se aplica tão bem. Uma vez que as dores e espasmos da crise da kuṇḍalinī se instalam, não existe medicina de ação imediata, não existe uma solução simples. Não existe um procedimento físico que reverta o fluxo ascendente da Serpente de Fogo. Acupuntura, prāṇa-nigraha (respiratórios) e massagem ayurvêdica podem ajudar, mas todas essas terapias são meramente sintomáticas. A ajuda de um profissional qualificado é importante se existe a percepção de que a crise da kuṇḍalinī já está se manifestando no sistema. Não há como voltar atrás: o caminho é se adaptar ou perecer!

Os śāstras (textos sagrados) da Āyurveda informam que a doença se manifestou no mundo quando Śiva destruiu o sacrifício de Dakṣa. Dakṣa foi um grande yogī, um ser tão avançado espiritualmente que os próprios ṛṣīs oficiaram o sacrifício. Śiva foi forçado a destruir o sacrifício porque Dakṣa estava relutante em renunciar seu apego a este tipo de trabalho espiritual. Essa história tem uma moral para todos aqueles que aspiram operar com as misteriosas forças da kuṇḍalinī, pois o Śiva que reside no interior de cada ser, a Consciência Pura e Infinita, é capaz de reduzir a cinzas qualquer apego e criar todas as doenças a menos que o sacrifício interno seja desinteressado, sem apego ao resultado da ação.

Dakṣa, que acreditava ser poderoso o suficiente para controlar a kuṇḍalinī com sua própria personalidade observou com desalento que apenas a personalidade de Śiva é forte o suficiente para dar limite e direção a kuṇḍalinī. Pela kuṇḍalinī também ser a energia sexual, essa história da destruição do sacrifício de Dakṣa pode ser lida como a história da interação sexual praticada pelas pessoas ordinárias. Acreditando que têm controle total, eles desfrutam do excitamento sexual até a descarga completa da energia ou gozo, a sensação de alívio e exaustão do ojas. Esse ciclo recorrente e violento de violação e desperdício de energia imediatamente agrava o vāta, manifestando a doença no organismo. O controle da fúria ígnea da kuṇḍalinī somente é possível se existe controle da resposta sexual.

A kuṇḍalinī forçosamente retira a couraça das débeis e insignificantes limitações humanas e impele o sādhaka a verdadeira existência ilimitada. Nesse estágio de transmutação interior, a glândula pineal está diretamente envolvida. Ela controla a conversão do shukla, as secreções do excitamento sexual, a expressão máxima do poder criativo de ahaṃkāra, em ojas, que forma uma aura de poder em torno do adepto. Para realizar essa tarefa, ahaṃkāra deve estar imbuído de fé profunda. Ela deve estar disposta a sacrificar parte de si mesma, parte de sua própria existência, a fim de ir além de si mesma e, paradoxalmente, para perpetuar a si mesma. O conceito de sacrifício é fundamental nos Vedas pois sem ele não há transcendência, nenhum ganho além de si mesmo em direção a um novo reino existencial.


Anotações


1. Veja Kuṇḍalinī Yoga Terapia & os Segredos Espirituais da Āyurveda no blog Escritos de Fernando Liguori: www.srikulacara.blogspot.com.br.

2. Embora o fluído sexual feminino (menstruação/rajas) seja descrito como sendo vermelho, não precisamos entendê-lo apenas como o rakta-dhātu. Aqui o rakta engloba secreções vaginais em geral, especialmente as secreções ricas em hormônios, produzidas através do estímulo sexual. O Tantra concebe o rakta-dhātu (tecido sanguíneo, plasma ou glóbulos vermelhos) – que atua na oxigenação de todos os tecidos corporais e órgãos vitais, sustentando a vida – como o yonī-tattva, quer dizer, princípio ou substância do útero.

3. Postulante, aspirante à liberdade e imortalidade espiritual.

4. O corpo humano é constituído por sete elementos básicos e vitais chamados dhātus. Assim como os doṣas, os dhātus são formados pelos cinco elementos primordiais (mahā-bhūtas). A palavra dhātu significa elemento construtor. Esses sete elementos ou tecidos são responsáveis pela estrutura total do organismo. Eles mantêm as funções dos diferentes órgãos, sistemas e partes vitais do corpo. Com ajuda do fogo digestivo (jataragni), os dhātus formam o sistema protetor biológico do corpo. Se um dhātu se alterar, todos os outros serão afetados, gerando um desequilíbrio em cadeia. Durante os estados normais (exceto durante a reprodução) esses tecidos nunca são eliminados do corpo, pois ele não pode perder nenhuma destas substâncias vitais. Se à perda acontece, os resultados serão doenças graves. Durante o processo de metabolismo, os tecidos ficam separados das excretas. O assim chamado alimento digerido, a base primordial dos dhātus passa por sete fases evolutivas sucessivas, durante as quais a energia potencial aumenta em cada uma. O corpo é sustentado por prāṇa e pelos alimentos, que influenciam os tecidos e a mente. Ambos são transmutados em essência cósmica através dos processos físicos de ingestão, digestão, assimilação e evacuação. Assim, respiração e alimento tornam-se a fonte eterna da procriação. A ingestão de alimentos saudáveis é essencial para qualidade dos nutrientes responsáveis pela sustentação dos dhātus. Também é relevante que os pensamentos sejam tranquilos, que a mente esteja livre de pensamentos negativos, os quais contaminam até mesmo o melhor e mais saudável dos alimentos. Enquanto as bioenergias (doṣas) são as causas das doenças, os tecidos do corpo são o lugar onde as doenças se manifestam. Em geral, a energia de kapha é responsável por todos os tecidos do corpo, principalmente pelo plasma, músculos, gordura, ossos, tecidos do óvulo e sêmen. Perturbações em quaisquer destes tecidos enfraquece os tecidos que se desenvolvem subsequentemente. O rasa-dhātu (plasma) é a substância fundamental do corpo e é mais facilmente comparada à linfa. Esse líquido que contém proteína circula por todo o corpo e fornece alimento a todo tipo de tecido. O plasma provê fluídos para o corpo, mas reside principalmente no coração, nos vasos, sistema linfático, pele e nos tecidos moles. O resultado de um rasa-dhātu satisfatório é vitalidade, impulso ao movimento, beleza e alegria. Nesse sentido, rasa pode ser traduzido como alegria de viver ou essência vital. Quando o rasa-dhātu diminui, a pele fica seca, áspera, gera sensações de fadiga, taquicardia e certa sensação de vazio no coração. Quando em excesso, kapha aumenta, o que gera uma maior produção de muco, saliva e bloqueio dos canais corporais. Seus tecidos secundários são o leite e a menstruação.

5. Veja o artigo Bindu Branco & Bindu Vermelho disponível no blog Escritos de Fernando Liguori (Cf. nota 1). Embora algumas escolas tântricas de linha vāmācāra tenham adotado uma postura objetiva no que concerne a mistura dos bindus branco e vermelho, a maioria dos mestres entendeu este processo de forma completamente metafórica, como nas escolas de linha dakṣṇācāra, onde essa união ou mistura alquímica ocorre internamente, na interação entre as energias solar-masculina (prāṇa) e lunar-feminina (citta).

6. A Āyurveda postula que ojas é o elemento sutil por trás do doṣa kapha. Como a essência dos sete dhātus ou tecidos corporais, é a energia vital que governa o equilíbrio hormonal e as funções do organismo com o auxílio do prāṇa. Nos termos yogīs, ojas é a vitalidade em si, a energia sexual completamente sublimada, a manifestação da kuṇḍalinī-śakti. Veja o adendo um para mais informações sobre ojas e sua interação com prāṇa e tejas.

7. Sobre a prática espiritual concernente a energia sexual em um contexto familiar, veja: Gṛhastha Brahmacarya & o Despertar da Śakti, disponível no blog Escritos de Fernando Liguori (Cf. nota 1), originalmente publicado na Revista Yoga Vidyā, Vol. I, No. 3, Kaula Yoga Publicações, 2011.

8. A ingestão de vitaminas processadas quimicamente ou até mesmo naturais é questionável do ponto de vista ayurvêdico. A abordagem fundamental da Āyurveda gira em torno da capacidade de digestão antes do sistema se ocupar com aquilo que será digerido. De que serve alguma coisa se o corpo não tem capacidade para digeri-la e assimilá-la? Isso vale para remédios alopáticos, medicinas naturais como chás, infusões, tônicos, tinturas etc., como para alimentos de toda espécie. A capacidade para digerir uma substância envolve uma ampla gama de sistemas no corpo. Na verdade, todos os sistemas do corpo estão envolvidos até certo grau no processo digestivo. Outra razão é que o sistema digestivo é a sede de cada um dos três humores ou doṣas, as forças que causam doença no corpo. É pura ignorância pensar que a digestão limita-se aos órgãos do trato digestivo apenas. A Āyurveda atribuiu a correta importância à abrangência desse processo. Ela compreende a inter-relação entre todos os diferentes sistemas do corpo e o papel que os alimentos desempenham no desenvolvimento da mente, das emoções e dos aspectos físicos do corpo. O sistema principal na criação de problemas digestivos é o sistema nervoso. Vāta controla o sistema nervoso. Portanto, é muito provável que o maior transtorno, depois da qualidade dos alimentos, seja o estado do sistema nervoso no corpo. Frequentemente confunde-se ausência de tensão visível com saúde. Contudo, sentimentos reprimidos e emoções mal resolvidas podem ser armazenados no sistema nervoso e desestruturar a função vāta no organismo. Isso diminuirá consideravelmente o poder de assimilação. Geralmente, um distúrbio vāta aparece no sistema digestivo como agitação mental, dor de cabeça ou doenças do sistema endócrino. As mulheres, neste caso em especial, experimentam problemas no ciclo menstrual.

9. Ahaṃkāra é o fator de individualização. Literalmente, a palavra significa princípio da egoidade ou formador do Eu. O Yoga o concebe como o ego, a força por trás da identificação com o corpo, o sentido de individualidade separada do todo. A Āyurveda o concebe como a força que identifica o corpo, a mente e o espírito permitindo que eles vivam juntos em um ser humano. Ahaṃkāra é uma força feminina, uma vez que é uma fração do poder ativo da Mãe Natureza. Podemos dizer, em um contexto ayurvêdico, que ahaṃkāra descontrolado ou desequilibrado – pela identificação com os objetos externos ao indivíduo – cria dependências nada saudáveis, insalubridade interna, estado de doença.

10. Na interpretação do haṭha-yoga, o mercúrio é o sêmen ou bindu (shukla na Āyurveda). Quando em estado bruto, quer dizer, como matéria bruta expelida pelo corpo, ele é venenoso. Veja o artigo Bindu Branco & Bindu Vermelho, a disposição no blog Escritos de Fernando Liguori (Cf. nota 1). Para ser purificado, aplica-se o prāṇa. No haṭha-yoga há um procedimento em que o yogī transmuta a energia sexual aplicando o prāṇa. Este procedimento é a vajrolī-mudrā. Sobre essa técnica a Haṭhapradīpikā (III: 83-91) diz:

atha vajrolī
svecchayā vartamāno’pi yogoktairniyamairvinā |
vajrolīṃ yo vijānāti sa yogī siddhi bhājanam ||83||

[83] A vajrolī. Qualquer um que viva sua vida a vontade, sem seguir os niyamas do yoga, se praticar bem a vajrolī, o yogī torna-se um receptáculo das siddhis.

tatra vastu dvayaṃ vakṣye durlabhaṃ yasya kasyacit |
kṣīraṃ caikaṃ dvitṣyaṃ tu nārī ca vaśa vartinī ||84||

[84] Há duas coisas difíceis de se conseguir, uma é leite e a segunda é uma mulher que aja segundo a sua vontade.

mehanena śanaiḥ samyagūrdhvākuñcanamabhyaset |
puruṣo’pyathavā nārī vajrolī siddhimāpnuyāt ||85||

[85] Ao praticar graduais contrações para cima durante a emissão na relação sexual, qualquer homem ou mulher atinge a siddhi da vajrolī.

yatnataḥ śasta nālena phūtkāraṃ vajra kandare |
śanaiḥ śanaiḥ prakurvīta vāyu sañcāra kāraṇāt ||86||

[86] Com cuidado introduza um tubo apropriado no orifício de vajra [pênis] e puxe o vāyu gradativamente.

nārī bhage padad bindumabhyāsenordhvamāharet |
calitaṃ ca nijaṃ bindumūrdhvamākṛṣya rakṣayet ||87||

[87] O bindu, que está para cair na mulher, deve se mover para cima com a prática. E se o bindu cair, ele e a secreção da mulher devem ser conservados puxando-os para cima.

evaṃ saṃrakṣayedbinduṃ jayati yogavit |
maraṇaṃ bindu pātena jīvanaṃ bindu dhāraṇāt ||88||

[88] Assim para o conhecedor do yoga a preservação do bindu é vida, a emissão do bindu é morte. Então o jīva conserva o bindu.

sugandho yogino dehe jāyate bindu dhāraṇāt |
yāvadbinduḥ sthiro dehe tāvatkāla bhayaṃ kutaḥ ||89||

[89] O corpo do yogī cheira agradavelmente ao conservar o bindu. Enquanto o bindu está estável no corpo, onde então fica o medo da morte?

cittāyattaṃ nṝṇāṃ śukraṃ śukrāyattaṃ ca jīvitam |
tasmācchukraṃ manaścaiva rakṣaṇṣyaṃ prayatnataḥ ||90||

[90] O sêmen do homem pode ser controlado por citta e o controle do sêmen é vivificante. Portanto, o sêmen e manas devem ser controlados e conservados.

ṛtumatyā rajo’pyevaṃ nijaṃ binduṃ ca rakṣayet |
meḍhreṇākarṣayedūrdhvaṃ samyagabhyāsa yoga vit ||91||

[91] No tempo certo, o conhecedor do yoga, hábil na prática, conserva seu bindu e o rajas da mulher ao puxá-los para cima através do pênis.

Essa mudrā foi adaptada a chefes de família cuja orientação sexual é dirigida a espiritualidade. Veja o artigo Gṛhastha Brahmacarya & o Despertar da Śakti, disponível no blog Escritos de Fernando Liguori (Cf. nota 1), originalmente publicado na Revista Yoga Vidyā, Vol. I, No. 3, Kaula Yoga Publicações, 2011. Para simples definição, trata-se da contração e relaxamento da uretra para estimular o swādhisṭhāna-cakra e promover brahmacarya. No caso dos chefes de família, essa mudrā controla a emissão seminal durante o intercurso sexual, vitalizando a mente e o corpo, gerando um caudal superior de energia (ojas). Para mulheres, essa técnica chama-se sahajolī-mudrā. Uma técnica conhecida e similar é a ūrdhvareta, que significa sêmen [que flui] de modo ascendente. Esse conceito se refere à curiosa experiência psicossomática da energia vital seminal fluindo da área genital, inundando os centros psicoenergéticos, até atingir o cérebro. Essa experiência subjetiva é acompanhada por uma progressiva perda de interesse pelo sexo e pelo prazer corporal em geral sem, entretanto, cair preso a repressão e seus sintomas indesejados. A perda do interesse pelo sexo é provocada pelo aumento do interesse nas experiências e realizações espirituais e, no final, na total transcendência do corpo-mente; de início, no estado avançado, mas temporário, de êxtase transconceitual (nirvikalpa-samādhi) e, a seguir, na condição irreversível da iluminação.

11. Os seis sabores estão conectados ao conceito de nutrição e dieta. Depois de respirar, comer é a função corporal mais vital. O ser humano se nutre ao converter a energia e a informação de plantas e animais em inteligência biológica de seu corpo. Assim como um madeiramento fraco resulta em uma edificação frágil, uma nutrição pobre leva a um organismo doentio. Para criar e manter o corpo saudável, o alimento deve ser nutritivo, a digestão deve ser forte e a eliminação eficiente. Uma refeição equilibrada deve conter os seis sabores da natureza: doce, azedo (ou ácido), salgado, picante, amargo e adstringente. Todos são necessários ao organismo para sua completa satisfação, quer dizer, para que os nutrientes necessários estejam integralmente presentes em todo sistema. Abordaremos a questão dos seis sabores com mais detalhes em um escrito já em preparo.

12. A questão do sacrifício será abordada na terceira parte deste escrito.

13. Veja o artigo Bindu Branco & Bindu Vermelho, a disposição no blog Escritos de Fernando Liguori (Cf. nota 1).

14. Veja o artigo Bindu Branco & Bindu Vermelho, a disposição no blog Escritos de Fernando Liguori (Cf. nota 1). Quando a kuṇḍalinī alcançou o maṇipūra-cakra e não mais retorna aos cakras inferiores, em sua ascensão, ela pode ser alimentada pelo amṛta secretado pelo bindu-visarga-cakra. Através das técnicas do kuṇḍalinī-yoga esse encontro ou consumo ocorre na região do viśuddhi-cakra.

15. Literalmente, a palavra significa conduta bramânica. O termo Brahma significa aqui espiritual, sagrado ou divino. Assim, brahmacarya passou indicar a disciplina espiritual adequada a um brâmane, membro da classe sacerdotal, que procurava simular a pureza da Realidade Última – neste caso, Brahma. Ao termo também é designado àquele período da vida destinado ao estudo dos Vedas. O estudante, então um brahmacārin, é orientado pelo ideal da abstinência total da sensualidade e, a ela inclusa, naturalmente, a sexualidade. Como Brahma transcende todas as distinções de gênero, o estudante é estimulado a praticar brahmacarya, a conduta da Realidade Última, de modo a preservar e cultivar o grande poder da energia sexual. Portanto, no hinduísmo, o termo brahmacarya designa não apenas o período de estudo e discipulado em geral, mas também a prática da castidade moderada entre os chefes de família, a total abstinência sexual dos ascetas e a sexualidade orientada de certas tradições tântricas.

16. Cf. nota 9. Classicamente podemos defini-la como: 1. ahaṃkāra: egoísmo, conceito de si mesmo, ego, princípio de egoidade, eu, auto-consciência; 2. ahaṃkāra-sattvíco: egoísmo benevolente e virtuoso; 3. ahaṃkāra-rajásico: egoísmo dinâmico com paixão e orgulho; 4. ahaṃkāra-tamásico: egoísmo expresso na forma de ignorância e inércia; 5. estado universal de existência, ininterruptamente criando a si mesma, o Eu Sou universal do qual o sentido de egoidade faz parte ou é uma manifestação; 6. no Vedānta: a base para o poder de projeção de māyā; 7. no Sāṃkhya: o terceiro dos oito elementos da criação, i.e. a concepção da individualidade, o princípio responsável pelas limitações, divisão e variedade na Natureza; 8. no Yoga: o estado rajásico que limita a consciência da existência.

17. Quando a experiência é severa demais, o corpo físico pode não suportar a carga, não conseguindo mais existir.


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